Os cinco indivíduos ontem ouvidos no Tribunal de Abrantes respondem por dois crimes de tentativa de homicídio, um de assalto (aos elementos da PSP) e duas agressões. À hora de fecho desta edição ainda não eram conhecidas as medidas de coacção aplicadas, depois de o próprio Ministério Público ter permitido o adiamento das inquirições para que a prova fosse mais bem sustentada.
A apreensão da shotgun roubada aos polícias na madrugada de sábado permitiu à PSP imputar aos suspeitos o crime de assalto armado. As primeiras perícias indicam no entanto que a mesma nunca foi disparada.
Os cinco homens – todos da mesma família e que são conhecidos na aldeia de Abrançalha pela alcunha de taliban por serem considerados violentos – chegaram ao Tribunal Judicial de Abrantes cinco minutos antes das 09h00, em duas viaturas da PSP, mas só começaram a ser interrogados às 11h30, já que a juíza de Instrução Criminal, Carla Gonçalves, quis ler toda a documentação antes de os chamar ao gabinete.
Carlos Manuel Campos foi o primeiro arguido a ser interrogado, entre as 11h30 e as 14h00, hora a que foi feito um intervalo para almoço. O interrogatório foi retomado uma hora depois, desta vez com a inquirição de Vasco Campos. Ao longo da tarde foram ainda ouvidos pela juíza Francisco e António, sendo Bruno – o homem que se barricou em casa – o último a ser interrogado.
TIROTEIO
A reconstituição da troca de tiros na tarde de sábado, em Abrançalha, não deixa grandes dúvidas. O agente Luís Barros, da Unidade Especial de Polícia (antigo Grupo de Operações Especiais) terá sido baleado por um colega de forma acidental. O polícia foi atingido quando estava de costas: a bala entrou-lhe pela nádega esquerda, perfurou-lhe a bexiga e saiu pela nádega direita – segundo Manuel Barbosa, director clínico do Hospital de Sta. Maria. No local não foi encontrada qualquer cápsula que sustente a tese de os suspeitos terem disparado: só havia vestígios de balas de nove milímetros da PSP.
A PSP garante que os cinco suspeitos estavam armados de pistolas e caçadeiras. Mas foram feitas intensas buscas no local e nada foi encontrado. A zona onde Bruno estava barricado – no pátio da casa – também não permite explicar o disparo que atingiu o polícia, uma vez que este encontrar-se-ia num plano superior. Os primeiros exames não permitem garantir qual a arma usada. Mas as queimaduras indiciam que a arma foi disparada de perto.
ARMA DA POLÍCIA ESCONDIDA EM CAMPO DE MILHO
A shotgun roubada no sábado a um agente da PSP do Entroncamento pelo grupo de assaltantes estava escondida num campo de milho na estrada entre Vila Nova da Barquinha e Golegã e foi recuperada anteontem ao final da tarde. Segundo apurou o CM, foi um dos arguidos que indicou às autoridades policiais a localização da arma de fogo, que terá sido levada para aquele local logo após ter sido roubada. A distância entre o Entroncamento e o campo de milho é de cerca de cinco quilómetros. As buscas envolveram elementos da PSP, da GNR e da Polícia Judiciária.
ARGUIDOS
CARLOS
Carlos Manuel Campos foi o primeiro suspeito a ser ouvido pela juíza de Instrução Criminal. Tem 25 anos e cadastro criminal por furto e roubo.
FRANCISCO
Francisco Paulo Campos, de 35 anos, não tem cadastro criminal. Ontem escondeu com os óculos de sol uma nódoa negra no olho esquerdo.
ANTÓNIO
António Campos tem 33 anos e é conhecido na Abrançalha pela alcunha de ‘Spínola’. O cadastro criminal está limpo. É irmão de Francisco e de Vasco e tio de Bruno e de Carlos.
VASCO
Vasco Campos tem 34 anos e cadastro criminal por furto e roubo. Foi interrogado após o almoço.
BRUNO
Bruno Campos, 23 anos, é irmão de Carlos. Tem um processo pendente. Nunca foi condenado.
FAMÍLIA DOS ARGUIDOS AFIRMA INOCÊNCIA
Os familiares dos cinco arguidos voltaram ontem a não arredar pé do Tribunal de Abrantes, onde eles foram interrogados durante todo o dia. Nem o facto de a PSP os ter impedido de se aproximar das viaturas policiais onde o grupo foi transportado nem de qualquer uma das entradas do Tribunal os fez desistir. A PSP fez deslocar para a zona perto de duas dezenas de agentes à civil e fardados, alguns provenientes do Comando Distrital de Santarém. Os familiares, na sua maioria mulheres que estavam acompanhadas de várias crianças, filhas dos arguidos – voltaram a afirmar a inocência dos cinco homens, defendendo que não estavam de poder de armas de fogo. Maria Aleixo, avó de dois detidos, disse que "eles nada fizeram de mal". A mulher de Bruno foi quem manifestou mais indignação, chamando a atenção para o facto de ter uma filha de tenra idade. Diferente reacção têm alguns habitantes da Abrançalha, que se mostram aliviados com a detenção do grupo. "Aqui na aldeia só os conhecemos por taliban, porque são violentos, só estão bem a fazer mal a quem lhes aparece à frente", disse um morador, que pediu o anonimato.
PSP NÃO FAZ COMENTÁRIOS A FOGO AMIGO
O comandante da esquadra da PSP de Abrantes, sub-comissário Celso Marques, fez questão de acompanhar ontem de manhã os cinco arguidos até junto do procurador do Ministério Público, Carlos Godinho, que está encarregue de conduzir o inquérito criminal. Celso Marques esteve todo o dia no Tribunal e não quis comentar a possibilidade de o agente ferido ter sido atingido por um colega, remetendo essa questão para as perícias em curso no Laboratório de Polícia Científica.
NOTAS
SHOTGUN - EQUIPA DE POLÍCIAS
A shotgun, que se assemelha a uma caçadeira de canos serrados, é utilizada pelos elementos da PSP, GNR e PJ, equipando as brigadas de intervenção rápida e as unidades especiais
ROUBO - DISPARO FRUSTADO
Quando a shotgun foi roubada ao agente da PSP, os assaltantes terão tentado fazer um disparo na sua direcção, mas a arma encravou e o tiro não saiu
DUPLA - MÃE E FILHA NA DEFESA
A defesa dos cinco arguidos está a cargo de duas advogadas – Isabel e Alexandra Mendes – que são mãe e filha. Foram contratadas pela avó dos dois irmãos detidos
Isabel Jordão/Tânia Laranjo
sexta-feira, agosto 01, 2008
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