sexta-feira, agosto 01, 2008

Trajectória do disparo trama polícia

Os cinco indivíduos ontem ouvidos no Tribunal de Abrantes respondem por dois crimes de tentativa de homicídio, um de assalto (aos elementos da PSP) e duas agressões. À hora de fecho desta edição ainda não eram conhecidas as medidas de coacção aplicadas, depois de o próprio Ministério Público ter permitido o adiamento das inquirições para que a prova fosse mais bem sustentada.

A apreensão da shotgun roubada aos polícias na madrugada de sábado permitiu à PSP imputar aos suspeitos o crime de assalto armado. As primeiras perícias indicam no entanto que a mesma nunca foi disparada.

Os cinco homens – todos da mesma família e que são conhecidos na aldeia de Abrançalha pela alcunha de taliban por serem considerados violentos – chegaram ao Tribunal Judicial de Abrantes cinco minutos antes das 09h00, em duas viaturas da PSP, mas só começaram a ser interrogados às 11h30, já que a juíza de Instrução Criminal, Carla Gonçalves, quis ler toda a documentação antes de os chamar ao gabinete.

Carlos Manuel Campos foi o primeiro arguido a ser interrogado, entre as 11h30 e as 14h00, hora a que foi feito um intervalo para almoço. O interrogatório foi retomado uma hora depois, desta vez com a inquirição de Vasco Campos. Ao longo da tarde foram ainda ouvidos pela juíza Francisco e António, sendo Bruno – o homem que se barricou em casa – o último a ser interrogado.

TIROTEIO

A reconstituição da troca de tiros na tarde de sábado, em Abrançalha, não deixa grandes dúvidas. O agente Luís Barros, da Unidade Especial de Polícia (antigo Grupo de Operações Especiais) terá sido baleado por um colega de forma acidental. O polícia foi atingido quando estava de costas: a bala entrou-lhe pela nádega esquerda, perfurou-lhe a bexiga e saiu pela nádega direita – segundo Manuel Barbosa, director clínico do Hospital de Sta. Maria. No local não foi encontrada qualquer cápsula que sustente a tese de os suspeitos terem disparado: só havia vestígios de balas de nove milímetros da PSP.

A PSP garante que os cinco suspeitos estavam armados de pistolas e caçadeiras. Mas foram feitas intensas buscas no local e nada foi encontrado. A zona onde Bruno estava barricado – no pátio da casa – também não permite explicar o disparo que atingiu o polícia, uma vez que este encontrar-se-ia num plano superior. Os primeiros exames não permitem garantir qual a arma usada. Mas as queimaduras indiciam que a arma foi disparada de perto.

ARMA DA POLÍCIA ESCONDIDA EM CAMPO DE MILHO

A shotgun roubada no sábado a um agente da PSP do Entroncamento pelo grupo de assaltantes estava escondida num campo de milho na estrada entre Vila Nova da Barquinha e Golegã e foi recuperada anteontem ao final da tarde. Segundo apurou o CM, foi um dos arguidos que indicou às autoridades policiais a localização da arma de fogo, que terá sido levada para aquele local logo após ter sido roubada. A distância entre o Entroncamento e o campo de milho é de cerca de cinco quilómetros. As buscas envolveram elementos da PSP, da GNR e da Polícia Judiciária.

ARGUIDOS

CARLOS

Carlos Manuel Campos foi o primeiro suspeito a ser ouvido pela juíza de Instrução Criminal. Tem 25 anos e cadastro criminal por furto e roubo.

FRANCISCO

Francisco Paulo Campos, de 35 anos, não tem cadastro criminal. Ontem escondeu com os óculos de sol uma nódoa negra no olho esquerdo.

ANTÓNIO

António Campos tem 33 anos e é conhecido na Abrançalha pela alcunha de ‘Spínola’. O cadastro criminal está limpo. É irmão de Francisco e de Vasco e tio de Bruno e de Carlos.

VASCO

Vasco Campos tem 34 anos e cadastro criminal por furto e roubo. Foi interrogado após o almoço.

BRUNO

Bruno Campos, 23 anos, é irmão de Carlos. Tem um processo pendente. Nunca foi condenado.

FAMÍLIA DOS ARGUIDOS AFIRMA INOCÊNCIA

Os familiares dos cinco arguidos voltaram ontem a não arredar pé do Tribunal de Abrantes, onde eles foram interrogados durante todo o dia. Nem o facto de a PSP os ter impedido de se aproximar das viaturas policiais onde o grupo foi transportado nem de qualquer uma das entradas do Tribunal os fez desistir. A PSP fez deslocar para a zona perto de duas dezenas de agentes à civil e fardados, alguns provenientes do Comando Distrital de Santarém. Os familiares, na sua maioria mulheres que estavam acompanhadas de várias crianças, filhas dos arguidos – voltaram a afirmar a inocência dos cinco homens, defendendo que não estavam de poder de armas de fogo. Maria Aleixo, avó de dois detidos, disse que "eles nada fizeram de mal". A mulher de Bruno foi quem manifestou mais indignação, chamando a atenção para o facto de ter uma filha de tenra idade. Diferente reacção têm alguns habitantes da Abrançalha, que se mostram aliviados com a detenção do grupo. "Aqui na aldeia só os conhecemos por taliban, porque são violentos, só estão bem a fazer mal a quem lhes aparece à frente", disse um morador, que pediu o anonimato.

PSP NÃO FAZ COMENTÁRIOS A FOGO AMIGO

O comandante da esquadra da PSP de Abrantes, sub-comissário Celso Marques, fez questão de acompanhar ontem de manhã os cinco arguidos até junto do procurador do Ministério Público, Carlos Godinho, que está encarregue de conduzir o inquérito criminal. Celso Marques esteve todo o dia no Tribunal e não quis comentar a possibilidade de o agente ferido ter sido atingido por um colega, remetendo essa questão para as perícias em curso no Laboratório de Polícia Científica.

NOTAS

SHOTGUN - EQUIPA DE POLÍCIAS

A shotgun, que se assemelha a uma caçadeira de canos serrados, é utilizada pelos elementos da PSP, GNR e PJ, equipando as brigadas de intervenção rápida e as unidades especiais

ROUBO - DISPARO FRUSTADO

Quando a shotgun foi roubada ao agente da PSP, os assaltantes terão tentado fazer um disparo na sua direcção, mas a arma encravou e o tiro não saiu

DUPLA - MÃE E FILHA NA DEFESA

A defesa dos cinco arguidos está a cargo de duas advogadas – Isabel e Alexandra Mendes – que são mãe e filha. Foram contratadas pela avó dos dois irmãos detidos

Isabel Jordão/Tânia Laranjo

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